Universidade do Minho: praxes abusivas proibidas por reitor
O reitor da Universidade do Minho, António Cunha, proibiu ontem ações abusivas de praxe académica nas instalações da instituição, exortando os alunos a que se "oponham ativamente" a práticas que ponham em causa a "liberdade, respeito e dignidade humana".
Esta medida é tomada depois de terem sido reportadas por alguns pais de alunos na Universidade do Minho "práticas abusivas" durante as primeiras semanas de praxe deste ano letivo.
Na circular distribuída aos alunos da Universidade do Minho, a que a agência Lusa teve acesso, António Cunha afirma que é objetivo essencial da instituição "a criação de um ambiente capaz de proporcionar a educação pessoal, social, intelectual e profissional dos estudantes e de promover uma cidadania ativa e responsável".
A referida circular esclarece que "não são permitidas nos campos ações, habitualmente designadas por praxes académicas, que configurem ofensas à integridade e dignidade humanas" nem "atos que limitem ou dificultem a participação dos novos alunos nas atividades pedagógicas com as quais estão comprometidos".
O reitor refere ainda que "não são permitidas manifestações que, pelo ruído que provocam, perturbem o normal funcionamento das atividades académicas".
Veteranos não respeitam "princípios de liberdade e dignidade"
António Cunha justifica estas medidas com o facto de o funcionamento dos campos da Universidade do Minho continuar a ser perturbado por ações de grupos de estudantes que, por vezes, "infringem os princípios fundamentais de liberdade, dignidade, urbanidade e respeito pelos outros".
Este tipo de acontecimentos, afirma o reitor, "a Universidade não pode consentir" pois tal poderá por em risco "o papel de instituição pública, responsável e plural, comprometida com a educação de todos e com a consecução plena da sua missão de promoção do ensino e da investigação".
A circular avança ainda que a Universidade do Minho condena veementemente todas as situações de violência física ou psicológica, coação, abusos e humilhações.
O responsável máximo da Universidade do Minho exorta assim os "estudantes da Universidade a que pugnem pelos valores da liberdade, do respeito e da dignidade humana, pelo que se deverão opor ativamente a práticas que os ponham em causa, seja nos espaços da Universidade seja no seu exterior".
Associação Académica rejeita as praxes abusivas
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Também a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) já se pronunciou sobre as praxes académicas, afirmando "rejeitar e repudiar métodos que indiciam violações de direitos individuais e, ou, assomos de autoridade".
A AAUM garante que não condescende com ações que "provoquem efeitos colaterais no funcionamento da Instituição" e apelou a que se sigam princípios de razoabilidade, responsabilidade e credibilidade.
Já no decorrer deste ano letivo alguns pais de caloiros da Universidade do Minho se insurgiram contra as humilhações e ofensas que, afirmam, os filhos sofreram durante a praxe.
Sem se querer identificar, nem referir o curso que o filho frequenta, o pai de um caloiro contou à Lusa que o filho foi "enxovalhado". "Ele chegou a casa todo sujo, com arranhões nas mãos e nos braços, por o terem obrigado a rastejar no chão. Vinha chocado com os insultos e com a pressão psicológicas que os alegados doutores exerceram", explicou.
Este pai, embora se diga "chocado", entende que deve ser o filho a decidir se quer ou não participar nestas praxes académicas. No entanto, avisou que "se o magoarem fisicamente ou se souber que não o deixam ir às aulas" irá "apresentar queixa junto das autoridades policiais e académicas".
Praxantes e caloiros manifestam-se calados
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Braga Marcharam por Gualtar contra vigilância da praxe por seguranças
Dois mil alunos da Universidade do Minho "marcharam" ontem no Campus de Gualtar, Braga, num protesto silencioso de indignação. De post-it a tapar a boca, praxantes e caloiros juntaramse para denunciar "a tentativa de acabar com as tradições académicas". Em silêncio e amordaçados com os famosos "post-it". Muitos usavam adesivos na boca, como quem tapa uma ferida aberta nestecaso, pela Reitoria da Universidade do Minho (UM), que recordou as regras de comportamento dentro dos campi (Braga e Guimarães), o que foi interpretado por praxantes e caloiros como a abolição das praxes académicas, as quais têm sido alvo de controle apertado por parte dos seguranças da Prosegur. Aqueles, ao serviço da UM, evitam comportamentos alegadamente lesivos da integridade física ou moral dos novos alunos e do normal funcionamento das aulas.
A parada da "indignação" invadiu o campus e ninguém ficou indiferente. Alguns aplaudiam, inclusive professores que diziam ser preciso "acabar com certos muros na Universidade", sem se explicarem nem identificarem. Ao longe, mas vigilantes, os seguranças, também eles objecto do protesto, seguiam os movimentos estudantis. Foi tenso o clima vivido na quase uma hora de marcha pelas alamedas de Gualtar.
A marcha terminou numa concentração no anfiteatro natural do campus, local de onde foram expulsos praxantes e caloiros da UM na passada segunda-feira. "Este protesto vem na sequência das notícias, do comunicado da Reitoria e depois de 700 alunos terem sido expulsos daqui - disseram que não podíamos fazer este tipos de ajuntamento e discursos. Primeiro expulsaram-nos; só depois veio a emenda a autorizar, quando já cá não estava ninguém", disse Pedro Silva, aluno trabalhador-estudante com nove matrículas, e que é o papa da academia. O também aluno de Sociologia falou em perseguição dos seguranças e estranhou a Reitoria dizer num dia que "não há abusos" e, dias depois, que "afinal há". "O praxista não pode fazer nada: vem logo um segurança a dizer que há coacção física. Se há abusos, somos a favor de seguirem para as estâncias judiciais, e somos os primeiros a denunciá-los. O código de praxe não está acima da lei, nem a Universidade", sublinhou. Também o presidente da Associação Académica, Luís Rodrigues, se colocou do lado dos praxantes. E também ele desconhece abusos e não entende os seguranças. "O comunicado do reitor é subjectivo. Concordamos com tudo o que está lá, mas não percebemos a perseguição aos alunos nem a coacção por parte dos seguranças, expulsando e identificando alunos. A praxe não é imposta e é praxado quem quer. Ninguém é obrigado a nada"...
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